terça-feira, 30 de outubro de 2012

As últimas braçadas.

Quando eu era adolescente eu entrei para uma equipe de natação de um clube.
Apesar de ser muito, ou completamente, iniciante, como fui aceito para treinar com a equipe, a confiança tomou conta de mim.
Logo no primeiro mês de treino, houve uma reunião com o técnico da equipe, onde ele disse que faltava alguém da equipe para competir uma prova de 100 metros nada borboleta, em uma competição importante para o clube, para marcar presença, nem que fosse para completar a prova.
Aí eu perguntei para um amiguinho que estava ao meu lado:
É difícil nadar borboleta?
Ele respondeu: não, só é um pouco cansativo!
Então pensei: puxa! além de poder competir pela primeira vez, vou fazer bonito com o técnico, a equipe e o clube... vou tentar!
Levantei a mão e disse: eu vou!
Ele ainda perguntou para mim: mas você sabe nadar borboleta?
Eu disse: não, mas eu aprendo e vou competir assim mesmo!
Ele disse: então está combinado, você vai competir a prova.
Mal sabia que tinha menos de 2 semanas para aprender a nadar e treinar, para competir, o estilo borboleta.
Pior, quem me ensinou, mais ou menos, ou melhor: deu umas dicas... foi um amigo nadador, não o técnico.
Detalhes a parte, chegou a hora da prova!
Foi anunciado na hora que chamaram os atletas, eu junto, que iria ter uma quebra de record naquela prova, e eu pensei, inocentemente: puxa que legal, vou nadar com o campeão!
Então, deu início a prova e eu estava super bem, até perceber que quando eu acabei de chegar nos primeiros 50 metros o campeão e recordista, já estava chegando nos 100.
Percebi que eu não era apenas o último na prova, e sim o único a continuar a prova! já que todos tinham chegado ao final e até saído da piscina, e eu, iria demorar um pouco... ou muito!
Percebi também, que eu estava muito, muito cansado e meus braços já não tinham forças para novas investidas de braçadas... e o pior é que faltavam muitas braçada para chegar até a borda final...
O ar que respirava, por mais forte que fosse, parecia ser insuficiente...
O tempo, parecia passar rápido e não ter fim, ao contrário de meu desempenho...
Passou milhares de coisas na minha cabeça, e uma delas, lógico, foi desistir...
Mas, a primeira vez que pensei em desistir e como iria fazer isso: uma voz me disse: não tem diferença nenhuma em parar no meio da piscina ou na borda de chegada, e a questão agora é, chegar lá!
Aí eu dei mais uma braçada e pensei: mas eu não aguento mais!
A voz: então continue assim mesmo, vá de qualquer jeito, lembre-se que cada braçada agora, é menos uma!
Pensei dando outra braçada: vou parar, vão rir de mim!
A voz: vão mesmo, mas você prefere que isso aconteça parando ou chegando lá?
E assim foi... até que cheguei lá!
Quando eu cheguei lá, tive 2 surpresas:
1- Me aplaudiram em pé, imagino que foi pela minha insistência e ou pelo meu esforço sobre-humano;
2- Caí na rizada!! pensando: a minha falta de ar era tamanha, que quando eu respirava tudo que eu podia, em cada braçada, e foram muitas, faltava ar para todos os que me assistiam, e acho que tinham que, até, soltar o ar!
Tirando a vergonha e o ato de heroísmo foi legal e muito engraçado mesmo!

Mas não é disso, exatamente, que quero falar agora!
Parece que esta mesma situação de prova aconteceu inúmeras vezes na minha vida, logicamente de forma diferente...
Aonde eu estava sabendo que algo iria acabar, algo, desagradável, iria por algum motivo chegar ao seu final, e me dava àquela imensa vontade de parar... mas, a voz aparecia dizendo, não com as mesmas palavras, mas do mesmo jeito... e que me fazia, de alguma forma, concluir a prova com dignidade.
Vejo que agora, no final do ano, alguns esperam que aconteça algo muito forte e que as mudanças que estão por vir, não seja apenas umas ondas de pequenas mudanças políticas, sociais, econômicas e de espiritualidade...
E que o fim que se comenta, seria o fim de uma prova, não de uma competição...
Uma prova que, para muitos, ou quem sabe para poucos, não haverá outra igual ou parecida...
Onde os atletas também não serão os mesmos, e muito menos a piscina....
Parecendo até que o ginásio que abriga o parque aquático passou por uma reforma instantânea, enquanto alguns atletas que estavam dormindo, também mudaram!
Mas, enquanto o fim do ano e do mundo não chega... a voz chega... dizendo:
Calma!
Já que chegou até aqui, a questão agora é chegar lá!
Cada braçada que der, ou seja... cada dia que passa, é menos um!
Você está indo bem, não pare agora!
Você não vai estragar tudo agora, que falta pouco, ou quase nada!
Não importa quem chega na sua frente, ao seu lado ou atrás de você, o que importa agora é você chegar!
Reclame, faça cara feia, dê rizada... mas, não pare!

É!
Talvez seja isso, ou assim mesmo!
Para alguns, serão as últimas braçadas nesta prova ou ciclo da vida, mas que para muitos outros serão mais umas, das muitas outras braçadas que haverão de dar...



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